As aranhas estão entre os animais mais temidos do planeta. Mas será que essa reputação é merecida? É verdade que algumas, incluindo todas as que estão nesta lista, podem infligir uma picada dolorosa, mas há muitos mitos em torno desses bichos.
Mais de 48 mil espécies diferentes de aranhas são encontradas no mundo. Dessas, apenas 0,4% das espécies representam riscos para humanos.
Em geral, esses animais não são agressivos e a maioria dos acidentes ocorre porque a aranha reagiu a ser incomodada ou presa. De acordo com dados de 2022 do Ministério da Saúde, o Brasil tem em média 33 mil acidentes e 18 mortes causadas por aranhas a cada ano.
Aranhas são venenosas?
É importante entender a diferença entre animais peçonhentos e venenosos. Enquanto os dois produzem substâncias tóxicas, apenas os peçonhentos possuem estruturas específicas para injetar essas substâncias em suas vítimas. Os animais venenosos só são perigosos se você mesmo entrar em contato com o veneno, seja tocando ou ingerindo, por exemplo.
Aranhas, então, são peçonhentas, porque conseguem picar. E sim: a maioria das aranhas produz veneno, que utilizam para defesa e caça de presas. A questão é que apenas algumas poucas possuem substâncias perigosas para humanos e animais domésticos. Mas é fácil confundir as espécies perigosas e as inofensivas. Na dúvida, é importante conferir as características específicas e manter distância.
Somente quatro gêneros de aranhas no mundo são consideradas de importância médica, e, no Brasil, temos representantes de três deles. Leia abaixo como identificar e curiosidades sobre cada uma delas.
1. Aranha armadeira (gênero Phoneutria)
O Guinness Book of World Records considera essa aranha brasileira a mais venenosa do mundo, porque uma quantidade muito pequena de seu veneno é suficiente para causar a morte de um camundongo.
Mas Paulo Goldoni, tecnologista do Laboratório de Coleções Zoológicas do Butantan, afirma que essa comparação não faz sentido. O grau de gravidade de um acidente envolvendo aranhas sempre vai variar de acordo com um número de variáveis, como o tempo de atendimento, quantidade e tipo de toxina, disponibilidade do soro, além das condições prévias de saúde da vítima. “Chega a ser irresponsabilidade comparar toxinas testadas em condições laboratoriais com o ser humano acidentado por uma aranha de interesse em saúde”, diz.
Hoje em dia, o uso do soro antiaracnídico evita a maior parte das mortes. Ao contrário da imensa maioria, essas espécies são agressivas, e o diferencial delas é a posição que ela faz de ataque, erguendo as pernas posteriores – daí seu nome
As aranhas armadeiras são de cor cinza ou castanho escuro e possuem pelos curtos no corpo e nas pernas. Próximo aos ferrões, os pelos são vermelhos, e nas “costas”, possuem uma forte marcação preta no cefalotórax. Seus corpos têm em média 5 centímetros, mas as pernas, com pequenas faixas brancas, têm 15 centímetros.
A sua picada produz dor imediata, mas não gera uma lesão local. Em algumas horas, a vítima começa a sentir suor e arrepios, mudanças de pressão arterial, náusea, hipotermia, visão embaçada, vertigem e convulsões. Em homens, ela também causa um sintoma inusitado: o priapismo, uma ereção duradoura e dolorosa. Geralmente, ela é encontrada em ambientes externos. Dentro de casa, costumam se abrigar em sapatos e roupas e atrás de cortinas. Ela também é conhecida como aranha bananeira, porque é comum que se esconda entre as folhas dessa planta.
Em 2015, um supermercado no Reino Unido teve de ser fechado depois que uma família encontrou ovos de aranha armadeira nas bananas que compraram lá. A polícia revistou a loja em busca da mamãe aranha, que não foi encontrada. A casa da família ficou infestada e também teve que ser evacuada para ser dedetizada, mas ninguém se machucou.
É comum que essas aranhas sejam confundidas com outras inofensivas, já que existem outras espécies que “armam”, ou seja, levantam as pernas da frente. No perfil do Twitter do biólogo e divulgador científico Alexandre Michelotto, ele costuma identificar espécies em fotos enviadas por seguidores. A confusão mais comum é achar que a aranha-lobo (Lycosidae), que é totalmente inofensiva, seja uma armadeira.
2. Aranha-marrom (Loxosceles)
Apesar de não ser tão venenosa quanto a aranha armadeira, essa pequenina ainda é mais perigosa do que a colega. São 19 espécies no Brasil, e são as que mais causam acidentes. Por serem mais adaptadas aos meios urbanos e pequeninas, essas aranhas muitas vezes passam despercebidas em calçados e roupas.
A maioria dos acidentes ocorrem entre outubro e março nas regiões Sul e Sudeste do país. Curitiba é a cidade com maior incidência de acidentes com aranhas-marrons no mundo.
Existem algumas características chave para reconhecê-las: seu corpo varia entre 2 e 5 centímetros de envergadura, tem três pares de olhos bem separados, o cefalotórax (o corpinho delas) em formato de pêra, uma marcação em forma de violino nas “costas” e a coloração é em tons de marrom. Suas teias são irregulares, como um chumaço de algodão mal distribuído, e elas vivem sob cascas de árvores, barrancos e folhas secas.
Sua picada é indolor, mas evolui em poucas horas para necrose do tecido e, sem tratamento, pode causar insuficiência renal e morte.
3. Viúva-negra (Latrodectus)
As quatro espécies de víuva-negra representam a terceira e última categoria de aranhas do Brasil que podem representar algum risco para a saúde. Mas nem adianta tentar fugir daqui por causa delas: no total, as 32 espécies são encontradas em todos os continentes (menos a Antártica).
Apesar de ser uma espécie bastante peçonhenta, as espécies que ocorrem no Brasil são menos perigosas do que as espécies europeias. O veneno desta aranha tem ação neurotóxica, e sua picada pode produzir dores musculares muito fortes, náuseas, alterações cardiorrespiratório, suor e tremores.
No Brasil elas causam poucos acidentes – menos de 0,4% dos casos por ano. Não são agressivas, só mordem quando comprimidas contra o corpo. Em geral, a evolução de casos graves está relacionada à sensibilidade da vítima.
O nome dramático é uma homenagem às práticas de acasalamento dessas espécies, em que a fêmea costuma devorar o macho após o nheco-nheco. Mas não é pura maldade da parte dela: na verdade, os machos quebram o seu aparato copulatório e o deixam dentro da genitália da fêmea, para impedir que elas copulem com outras. Assim, ele não precisa competir com outros machos e já garante uma refeição para fortalecer a mãe dos seus futuros descendentes.
As fêmeas são grandonas: têm um centímetro de comprimento e três de envergadura de pernas; o macho não passa de seis milímetros. São reconhecíveis pelas cores entre preto, marrom e vermelho, com diferentes padrões nas “costas”, em geral em formato de ampulheta. As suas teias são irregulares e grandes, e elas têm hábitos sedentários, ou seja, depois que se instalam em um local dificilmente se mudam. Não são agressivas.
4. Aranha da teia de funil (Atracidae)
Nativas das florestas úmidas australianas, são mais de 46 espécies de aranhas que possuem um veneno tão potente que sua picada pode matar em minutos. Mas desde que cientistas desenvolveram um antídoto em 1981, nenhuma morte foi reportada.
Elas são de tamanho médio, medindo entre um e cinco centímetros. Os machos são mais leves do que as fêmeas. A cor do corpo pode variar do preto ao marrom, mas a carapaça dura que cobre a parte frontal do corpo é sempre peluda e brilhante.
O sinal mais característico de sua teia é um formato de toca em funil, com linhas irregulares de seda que se irradiam da entrada. Essas linhas alertam a aranha sobre possíveis presas, parceiros ou perigo.
A sua toca é revestida de seda e pode ter até 30 centímetros de profundidade. Para caçar, a aranha simplesmente senta-se dentro da toca com as pernas dianteiras apoiadas nas linhas exteriores e espera que uma de suas presas esbarre na sua armadilha. Quando ela sente as vibrações de um inseto ou até um pequeno mamífero, corre e injeta seu veneno.
Como se prevenir de acidentes com aranhas?
Se encontrar uma dentro de casa, você pode chamar os bombeiros no telefone 193. Em caso de acidentes, é importante tentar levar o animal ou uma foto para o atendimento médico.
“Não há evidências que o uso de repelente possa afastar aranhas”, diz Paulo Goldoni, do Butantan. Para evitá-las, as dicas são eliminar entulhos e materiais acumulados e usar telas de mosquiteiro nas janelas. Também é importante evitar a proliferação de insetos, que são o principal alimento das aranhas em ambientes urbanos. Para isso, a dica é acondicionar bem o lixo, vedar e aspirar frestas e rachaduras.
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